A Revolução Etíope de 1974: um levante popular contra o regime imperial e a influência soviética no Chifre da África

blog 2025-01-03 0Browse 0
A Revolução Etíope de 1974: um levante popular contra o regime imperial e a influência soviética no Chifre da África

O ano de 1974 marcou um ponto de viragem na história da Etiópia, com uma revolução que abalou os alicerces do antigo regime imperial. A Revolução Etíope, impulsionada por descontentamento social generalizado, culminou na deposição do imperador Haile Selassie I e na instauração de uma junta militar liderada pelo Derg. Este evento histórico complexo teve raízes profundas nas desigualdades sociais, na crescente influência soviética no Chifre da África e no desejo de modernização da Etiópia.

As sementes da revolução foram plantadas durante décadas de autoritarismo imperial. O regime de Haile Selassie I, apesar de ser reconhecido por sua visão modernizadora em áreas como a educação e a saúde, mantinha uma estrutura social rigidamente hierarquizada. A maioria da população rural vivia em condições precárias, enfrentando pobreza extrema e exploração feudal. A concentração de terras nas mãos de poucos nobres e a ausência de uma classe média forte geravam um profundo ressentimento social.

O contexto internacional também desempenhou um papel crucial na revolução. A Guerra Fria se intensificava na década de 1970, com o bloco soviético buscando expandir sua influência na África. A Etiópia, tradicionalmente alinhada ao Ocidente, começava a sentir a pressão da URSS, que oferecia apoio militar e financeiro em troca de concessões políticas. Essa crescente influência soviética alimentou a desconfiança entre as camadas populares, que viam o regime imperial como um títere do comunismo.

A gota d’água para a revolução veio com uma série de eventos no início de 1974. Uma grave seca atingiu a Etiópia, agravando as condições de vida da população rural. A inflação descontrolada corroía o poder aquisitivo dos cidadãos urbanos. Em meio a essa crise socioeconômica, um grupo de militares jovens e insatisfeitos com a corrupção do regime imperial iniciou uma série de protestos e greves.

A resposta do governo imperial foi inicialmente repressora, mas a violência contra os manifestantes apenas inflamou ainda mais a revolta popular. Em 12 de setembro de 1974, o Derg, um conselho militar liderado por Mengistu Haile Mariam, tomou o poder em Addis Abeba. O imperador Haile Selassie I foi deposto e mantido sob prisão domiciliar até sua morte em 1975.

A Revolução Etíope de 1974 trouxe consigo profundas mudanças na sociedade etíope. A monarquia tradicional foi abolida, dando lugar a uma república socialista liderada pelo Derg. O governo militar implementou reformas radicais, como a nacionalização das terras e das empresas, a promoção da igualdade social e a campanha de alfabetização em massa.

No entanto, a promessa inicial de uma Etiópia mais justa e igualitária logo se viu confrontada com a realidade autoritária do regime Derg. O medo de contra-revoluções levou a uma crescente repressão política. Os opositores do governo foram perseguidos, presos e torturados em grandes números. A censura da imprensa e o controle sobre as liberdades civis tornaram-se rotina.

A Guerra Civil Etíope, que se iniciou em 1974 e durou até a queda de Mengistu Haile Mariam em 1991, foi uma consequência direta das políticas autoritárias do Derg. Os grupos rebeldes eritreus e tigrínios lutaram contra o governo central por autonomia e autodeterminação.

A Revolução Etíope teve um impacto profundo na região do Chifre da África. A queda do regime imperial abriu caminho para uma nova ordem política, com a Etiópia assumindo um papel mais ativo no contexto regional. No entanto, os conflitos internos e a instabilidade política que marcaram o período pós-revolucionário também contribuíram para a perpetuação da pobreza e da violência na região.

Consequências da Revolução Etíope
Queda do regime imperial e fim da monarquia
Instauração de uma república socialista liderada pelo Derg
Nacionalização das terras e das empresas
Promoção da igualdade social, mas também repressão política
Guerra Civil Etíope (1974-1991)

Em suma, a Revolução Etíope de 1974 foi um evento histórico complexo que trouxe profundas mudanças para o país e a região. Embora tenha inicialmente prometido uma Etiópia mais justa e igualitária, a revolução acabou dando lugar a um regime autoritário que provocou conflitos prolongados e sofrimento humano. O legado da revolução continua sendo debatido até hoje na Etiópia, onde os desafios de reconstruir o país após décadas de instabilidade são imensos.

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